A Globalização da Indiferença

IndiferençaNa era de todas as globalizações, o Papa Francisco vem alertar para uma nova faceta deste complexo fenómeno: A indiferença. Fá-lo na sua mensagem quaresmal e convida os cristãos e as comunidades a enfrentar este mal, fortalecendo os corações com o espírito de conversão próprio deste tempo.

A indiferença pode ter vários rostos e o pior de todos é a hipocrisia. Temos bem viva na memória a tragédia que vitimou vários jornalistas em França. De imediato, os Média motivaram a opinião pública para uma onda de solidariedade de dimensões gigantescas. “Je suis Charlie” tornou-se uma bandeira comum. Em Paris, uma manifestação de dimensões épicas, com dezenas de chefes de Estado e autoridades destacadas, denunciava a indignidade de um acto que chocou o mundo.

Entretanto, esta semana foram degolados mais 21 cristãos na Líbia por um único crime: Eram cristãos. O horror das imagens e a atrocidade incomensurável do acto, desta feita, não foram suficientes para provocar nos mesmos Media uma reacção proporcional à brutalidade da notícia. E pergunta-se: Porquê tanta solidariedade com uns e tanta indiferença com outros? Valerão mais as vidas de alguns jornalistas que lamentamos do que a vidas destes cristãos e de muitas centenas de outros cristãos? Morrer em França é diferente do que morrer na Líbia ou na Síria?

O fundador da Comunidade de Santo Igídio, Andrea Riccardi, numa magistral obra sobre os mártires do século XX, denunciava que o século passado fora o mais feroz na perseguição aos cristãos. Esta denúncia também nunca foi notícia. Entretanto, os primeiros 15 anos do século XXI estão a ser o palco das mais terríveis perseguições de que há memória sem que a opinião pública seja informada devidamente e, sobretudo, alertada para o que se está a viver. 

Esta indiferença é cúmplice de interesses escondidos mas que não conseguem disfarçar as suas intenções. Onde estão os Chefes de Estado a denunciar as perseguições contra os cristãos? Onde estão as páginas inundadas de “Eu sou cristão”? A maior cegueira é aquela que não quer ver e a pior das indiferenças é a ideológica ao serviço dos interesses obscuros.

A actualidade da mensagem do Papa é de capital importância. Denuncia interesses e apela aos compromissos. A passagem da hipocrisia ao compromisso e da indiferença à corresponsabilidade, só poderão acontecer se fortalecermos os nossos corações com a luz da Verdade e da Misericórdia.

A Quaresma é um tempo oportuno para passarmos dos bons propósitos aos actos que edificam. Com o nosso coração fortalecido por um verdadeiro espírito de conversão, unamos os nossos esforços contra a corrente ignóbil da Globalização da indiferença. Agora!

Padre Mário Tavares de Oliveira