A expulsão das Ordens Religiosas na pena de um frade poeta

A expulsão das ordens das Ordens religiosas de Portugal (não gosto de lhe chamar extinção, porque dá a entender que naturalmente as Ordens se foram “apagando” o que não é verdade), continua a ser um tema tabu nas relações entre o Estado português e a Igreja Católica. É uma ferida que “sangra” assim que falamos deste assunto. Os católicos portugueses estão permanentemente a entrar em imóveis subtraídos à sua Igreja neste contexto histórico, quando em determinadas vilas e cidades entram numa Câmara Municipal, ou num hospital, ou imóvel do Exército, ou Museu, ou até mesmo numa unidade hoteleira. Ali estão bem presentes os azulejos de temática religiosa, ou antigas capelas e Igrejas hoje delapidadas, claustros e jardins onde os frades deambulavam rezando o seu terço e louvando a Deus, enfim, um sem número de elementos que evocam o antigo uso daqueles imóveis. Não deixa de causar alguma dor da alma do povo português e de saquear os bens conventuais para pagar os custos de uma guerra civil ideologicamente importada.
Todo o processo teve início quase um ano antes, com o decreto do maçon José Silva Carvalho de 3 de Agosto de 1833, através do qual a vida dos conventos e mosteiros tinha já sofrido um revés difícil de superar, com a proibição da entrada de novos candidatos à vida religiosa e expulsão dos noviços. Depois foi o golpe decisivo, porque havia que apressar a expulsão das Ordens Religiosas de modo a arrecadar os seus bens. Dois dias depois da assinatura da Convenção de Evoramonte, a 28 de Maio de 1834, o maçon Joaquim António de Aguiar, manda publicar apressadamente o decreto que ordena o encerramento de “todos os conventos, mosteiros, colégios, hospícios e quaisquer casas de religiosos de todas as ordens regulares, incorporando os seus bens na própria Fazenda Nacional”. A deia original era mesmo a de mandar expulsar todas as Ordens, inclusivamente as femininas, contudo os liberais mais moderados não permitiram que tal iniciativa fosse por diante com receio de que as freiras acabassem na mendicidade.
Perante tal legislação podemos imaginar como terá ficado o coração de milhares de frades, que num repente se viram expulsos de suas casas centenárias. Sem casa, sem bens, sem roupa, sem os seus irmãos… É neste cenário que um frade anónimo do Convento de São Paulo da Serra d’Ossa escreve umas décimas, das quais se conserva uma 2ª edição no Arquivo Histórico de Estremoz. Estas são um testemunho em primeira mão de quem viveu (sofreu!) este desastre. Nos próximos números das “Notas de Cultura”, publicarei estas décimas tão ilustrativas deste drama.
(1.ª Parte)
Diác. Hugo Guerreiro, in a defesa, 7 de fevereiro.